terça-feira, 14 de setembro de 2010

O OUROBOROS MARANHENSE

De acordo com o site: Culto da Vida, que trata de mitologia e misticismo, o Ouroboros é “A serpente que devora a própria cauda, é um símbolo com mais de 3 mil anos, e que regularmente retorna à nossa consciência coletiva das mais diversas formas” .

Tratá-se de um ícone de auto-suficiência, mas também uma simbologia do infinito. É muito fácil olhar esta imagem e compreender que trata-se de algo sem começo nem fim, mas em diferentes culturas o Ouroboros também é crescimento, pois à cada volta, alimentando-se de si, o Ouroboros magicamente torna-se maior e mais poderoso.

- Não nos lembra algo?

Esta antiga figura mística me ajuda a explicar uma faceta de nossa história.

Há muitos anos o Estado do Maranhão, assim mesmo, com “E” maiúsculo e “M” maiúsculo como manda o figurino, porque a terra é boa, o bicho é que é feio, pois bem, essa terra vem se tornando cada vez mais pesarosamente a cauda que é comida por este “monstro mitológico”. Esse Ouroboros maranhense é uma entidade capaz de sobreviver a tudo e ressurgir mais viva do que nunca.

Bom, é claro que não estou falando dos que já partiram e permanecem vivos pela sua arte, como João do Vale ou Gonçalves Dias, ou de sua luta como Maria Aragão ou Padre Josimo, também não falo dos ainda encarnados que vivem em nosso Estado.
O Bicho de que falo reside atualmente com a cabeça em Brasília, o corpo no Amapá e ainda “Comendo a Cauda” do Maranhão!

É incrível analisar e admirar a capacidade quase messiânica que a oligarquia dominante no nosso Estado tem de manter-se viva após os mais improváveis reveses.

Sarney (bate na madeira) surge na nossa história como uma minhoca na hierarquia dos bichos que são ou parecem cobra (aliás, se tem algo de que ele entende é de hierarquia). Andando nos corredores do mesmo Palácio dos Leões, que seria seu domínio por 45 anos, ele começa a se alimentar de si mesmo, da sua rara capacidade de impressionar, do polimento lustroso de seu casco indestrutível, da gentileza de seus modos, da “qualidade” de sua oratória e da impressionante capacidade de articular, cada vez mais cresce e, já adaptado à desfrutar do próprio prestígio, começa a se aventurar pelos escalões federais.

É aí que assume definitivamente a forma do Ouroboros...

Golpe militar de 64!

A cauda (o Maranhão) que o alimentava, até então civil, democrática, trabalhista, getulista, passa ser uma cauda militar, “coturnista”, “hierarquista”, coronelista, e cada vez mais a pequena minhoca funcionária do Palácio dos Leões, alimentando-se de si torna-se mais e mais militar. Impressionante que, após décadas comendo coturnos, você via o Sarney (bate na madeira) de terno entre os fardados e não conseguia diferenciar nada, era igualzinho, era a mesma pessoa.
E assim foi sua primeira volta em torno de si. Saiu mais forte, maior, já não era possível calcular com facilidade a esfera de sua influência.


Mas, como toda entidade mitológica que se preze, e com a astúcia aguçada que sempre lhe ajudou a prever os fatos ele soube, bem antes dos outros, que o fim da era dos coturnos estava próximo, não era possível conter a mudança e, antes que os militares cedessem o poder, cá estava o Ouroboros da baixada maranhense de braços dados com Tancredo Neves, sendo eleito vice-presidente da República e com sorte de semi-deus que ele pretende ser, assume de forma ilegítima e imoral por 5 anos a presidência da República.


Essa segunda volta em torno de si foi mais rápida, porém, a que mais o fortaleceu. Seu alimento não era mais democrático, nem ditatorial; ele era o próprio poder agora, e na mais catastrófica gestão que o País já viu. Alimentando-se da fome e indigência alheias, ele cresce em patrimônio, em rede de comunicações, em influência no judiciário, em apoio empresarial. E o Maranhão, eterna cauda que lhe alimenta, cai na mais desgraçada fase de mendicância.


Após sair do poder, nosso Ouroboros ainda se alimenta do Neoliberalismo em moda na Europa, mas, sem muita força dentro do Governo de Fernando Henrique, volta-se mais do que nunca para solidificar a sua oligarquia no Estado, elegendo a filha governadora por duas vezes.

Com Lula na presidência tudo foi mais fácil. Sarney (bate na madeira) reassume a Presidência do Senado, nomeia ministros, garante apoios, compra apoios e exige apoios. E sobre essa história recente, pouco precisa ser dito; têm-se visto, para vergonha coletiva, o “companheiro” (me lembra o amigo da onça) pedir voto pra “Oligarquia da Serpente” como diria meu mestre Othelino.

Onde quero chegar com essa reflexão sobre Sarney (bate na madeira) o Ouroboros maranhense?
Quero chamar atenção para o fato de que a existência desta besta pode ser interrompida, que o seu crescimento pode ser detido.

Pouco me importaria se o seu alimento fosse a própria cauda. Se fosse só isso, que Deus o abençoasse e que crescesse até explodir, pouco ou nada me diria respeito. O que me importa é saber que essa cauda que está sendo comida é a nossa; que o alimento desse bicho é o meu e o seu suor; que o que falta em minha mesa e na panela da Dona Maria lá em Viana está na despensa desse monstro que nunca conseguimos matar de vez.

É preciso cortar esse ciclo, dar fim a essa interminável matança de nossa dignidade.
Querem sinônimos?

Esse ciclo de vida e morte, vida dele e morte nossa, é:

Assassinato de nossa esperança.

E viver sem esperança é como não viver.

Cortar a cauda ou a cabeça, findar o ciclo, interromper a renovação, não permitir que se complete outra volta, é nosso dever, sim, dever! Devemos isso aos nossos filhos. Precisamos entregar às gerações futuras um mundo livre, um Estado livre, um Maranhão com “M” maiúsculo, que não existe para alimentar nenhum monstro mitológico, e sim pra fazer de seus cidadãos Homens e Mulheres livres e prósperos.

Cabe a nós, Homens e Mulheres livres, confirmar em 2010 a decisão tomada em 2006 e roubada em 2009, quando, alimentando-se do próprio poder, esta criatura, que se renova ciclo após ciclo, nos roubou o governo que elegemos.

Não podemos subestimá-lo; não podemos baixar a guarda, piscar já é perigoso nesses tempos de eleições.

Quebrar um ciclo e começar outros e outros, deixar que a primavera suceda o inverno, que para o Maranhão foi inferno, enterrar essa serpente (não no Convento das Mercês, pelo amor de Deus) é mais que uma decisão política, é quitar um débito que não devemos transferir a nossos filhos.

É exigir de volta do Ouroboros, a cauda do Maranhão, que ele comeu...

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